domingo, 5 de janeiro de 2014

"Não me canso de te amar sem pudores"

Precisamos de cinco anos pra descobrir uma coisa que já era óbvia desde sempre. Desde a primeira vez que nos vimos. Nunca foi pra dar certo, o Universo conspirou contra e os deuses - aposto! - se deliciavam com a nossa bonita história de desencontros.

Em minha cabeça eu tecia mil tramas insolúveis, nada me parecia lógico e possível o suficiente para nós. E na verdade, na prática, não era mesmo. Os paralelos lógicos não nos eram tangíveis. Coisas improváveis e ilógicas sim, eram. Faziam sentido. E agora, fazem ainda mais.

Lembro-me quase que sem esforçar a memória de uma quinta-feira de setembro. Dia em que você me chegou quase derrubando a porta depois de me ligar insistentemente e eu não atender.

Que foi? - Eu disse desentendida. -

Você. Você é o que sempre há de ruim comigo. E de bom. - Disse enfurecido. -

Quer um chá? - Desconversei. -

Quero você! - Aproximou-se e me tomou nos braços. -

Derreti-me inteira, d'uma só vez. Tua força, tua garra, tua gana, teu desejo. Você. E de repente éramos nós. Uma coisa só. E se o tempo pudesse ser congelado, tudo daria certo para nós. Porque de repente só precisavámos um do outro, nós nos dependíamos. Mas você sabe, ninguém para o relógio. Ninguém congela o tempo. Nem eu, nem você, nem se quiséssemos muito. E quisemos. Em vão.

A nossa bela história era enredo, valsa, trama. Mas o fim não era feliz, nem bonito. Apesar de eu sempre achar mais beleza nas coisas tristes...

Depois do teu amor naquela tarde, nos levantamos com vontade de vencer o mundo e contrariar nossos destinos.

Café ou chá? - Perguntei. -

Vinho! Tem aí? - Você sorriu malicioso, insinuante. -

Tem sim. Tinto suave, como sempre. - Ri com cumplicidade. -

Bebemos o vinho, rimos da vida e cometemos o pecado de nos perguntarmos o porquê. Você me apontou mil defeitos, me senti culpada por tudo ter acabado. Você falava e falava, e me lembro de dizer que me tornei uma pessoa de impossível convivência. Comecei a chorar, desabei, o mundo caiu sobre os meus ombros. O que foi que eu tinha feito de tão errado? Por que, raios, a culpa era só minha?

Cala a boca! Chega. - Disse interrompendo o choro. -

É isso? - Você perguntou com um tom de amargura. -

Sim. Sempre foi isso. Você sempre me traiu e depois vinha assim, assim mesmo, me culpando pelos desastres do mundo. Você me traiu, Francisco. E não foi uma só vez, nem de uma só maneira. Você traiu minha confiança, minha amizade, nosso relacionamento. Fracisco, eu só endureci por isso. Por você. - Desabei. -

Então é tudo minha culpa? - Disse amargo e arrependido. -

Não. É minha também. Cada um de nós têm sua parcela. Eu podia ter insistido, ter perdoado, esquecido. Eu podia, Francisco, você sabe. E me culpa por não ter feito isso. Mas eu não consegui.

Você envolveu-me num abraço terno sem dizer uma palavra. Naquele momento você queria meu perdão, e eu dei. Era pra ser assim desde o príncipio.

Quando interrompemos o abraço, você esbarrou e as taças caíram no chão. Imediatamente levantei-me do sofá e fui recolher os cacos. Você também. Em prantos ainda, ambos colidimos a cabeça um do outro. E rimos, gargalhamos.

Nunca daria certo, Helena. - Você constatou. -

Eu sei, e mesmo sabendo disso não consigo deixar de te amar. - Disse entre as risadas.

Quando estamos juntos tudo dá errado. E mesmo assim, eu não me canso de te amar sem pudores. - Finalizou.

Nenhum deus nos quis juntos, o Universo não cooperou . Era pra ser como foi. Tínhamos amor pra mais de uma vida, mas quem foi que disse que isso era suficiente? Nascemos um para o outro, o nosso amor era uma história linda para ser contada. Mas não, não nascemos para ficar juntos. Não dávamos certo. Nunca daríamos.

Nosso amor era perfeito por conta disso. Era pra ser e não era. Existia, mas não devia. Andávamos sempre no meio do caminho, éramos a linha tênue. E esse foi o fim de uma história sem começo. O meio da estrada.

Sua mãe dizia que algo que começou errado nunca ía dar certo. Ela estava certa e devia saber disso.

Ainda assim, nosso final infeliz foi mais bonito que todos os finais felizes juntos.

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