terça-feira, 29 de outubro de 2013

Outro dia triste, Helena.

Este é outro dos dias em que eu me pego sentindo esse vazio imensurável, querida.
Outro dos dias em que eu me pego aqui, redigindo-lhe uma outra carta, falando sobre as mesmas coisas. As mesmas mágoas, amarguras, inseguranças. E tendo as mesmas reflexões de sempre.
Esse é só outro daqueles dias em que eu decido mudar a minha vida e nada acontece. E não acontece porque eu não sei nem por onde começar.

Por onde começo hoje, Helena?

Quando paro para refletir sobre a vida tenho ânsia de vômito. Sinto medo, não sei. Uma insegurança que vem de longe, como se o passado fosse presente e tudo isso fosse só um sonho.

Hoje, Helena, pensei nas dores enormes e incuráveis que trago no peito. O que fazer para tratá-las? O tempo me fez bem, é verdade, mas não curou nada. É como se eu não fosse mais a mesma - e não sou -, mas algo de mim ainda revive tudo, todos os dias. É uma tortura sem fim. Você entende?

Uma parte de mim deseja tão forte que certas coisas - simples pormenores - sejam como antes, mas não sei qual é essa parte nem onde está. Alguma parte, bem escondida, quase esquecida. Alguma parte de mim que ainda sente muito; sente a dor, o medo, a insegurança e a saudade, e não quer morrer. Digo, essa parte piegas ainda viva, não quer morrer.

Ficou um buraco bem no meio do meu peito.

E sabe, ainda tenho aquela urgência inadiável de amar, mas não sei mais sentir como antes. Muita coisa em mim morreu, Helena; mas o que devia ter ido, não foi.

Estou com esse nó na garganta há horas; tentei chorar, não consegui. Minha voz está embargada, mas não consigo desfazer tudo isso em lágrimas. Secaram, acredito eu. O que faço então?

Como posso amar outra vez, Helena? Como posso olhar para o espelho e me reconhecer outra vez? Como posso, em sã consciência, parar de me culpar?

Será sempre assim?

Ah Helena, essa minha melancolia é a chaga que eu carrego na alma, é linda e pura, mais que isso, arrisco dizer: ela é sincera. E mesmo assim, não compreendem-na. E não compreendem a mim.

Como é que eu faço pra me desfazer das mágoas de quem não respira mais, Helena? Como é que eu faço pra parar de me culpar e aceitar que fui vítima? Como é que faço pra me curar dessa doença, dessa penumbra sem fim?

Como faço? Por onde começo?


Rio de Janeiro, terça-feira de outubro, 2013.
Fernanda F.

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