quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Helena, te escrevo pra choramingar meus dias escuros. Outra vez.

Ninguém vê minhas marcas. E desmancho minh'alma num choro de desespero a cada risada que falsamente dou. Vou me esticando um pouco aqui, outro pouco acolá, me desdobro em três, quatro, cinco partes. E vou me perdendo cada vez um pouco mais.

Acordo nessa cama que mais parece minha cova e me enterro na infinita dor de me ser. Dia após dia, Helena,  vou deixando esse meu rancor que não é terreno me moldar. Morri há dois meses, ninguém foi ao enterro. E até hoje, ninguém visitou meu sepulcro.

Nessa minha morte em vida, meus cabelos tingidos de vermelho me caem sobre os seios e o coração como mortalha. O amargor dos meus traumas faz camadas espessas em torno do meu coração e seca qualquer sentimento bom como faria uma erva-daninha. E de pensar que quando era jovem, eu tinha sonhos imensos e sem forma, sonhos que abraçavam todas as possibilidades. Sonhos que iam além de um copo de cachaça pra acompanhar a dor dos dias que se estendem. Essa mesma dor que chamo de minha.

Cada parágrafo que lhe escrevo, Helena querida, é só um amontoado de lamúrias esquálidas que tenho carregado e não consigo dividir com mais ninguém. Cada parágrafo que lhe escrevo é uma parte do décimo vivo restante de mim e cada palavra é uma faísca do fogaréu que eu tenho incendiando minh'alma e tornando o pouco que resta, em cinzas. E talvez um dia se trate de superação, mas não hoje, nem semana que vem. Talvez no próximo ano. Falta pouco agora.

Só sei que escondo minha solidão do mundo lá fora, Helena. Ela foi tudo o que me restou.
Perdoe só escrever pra contar meus dramas e traumas, é tudo o que tenho tido a dizer. Nenhuma boa, nenhuma nova. Nada de bom me aparece, nada de bom me apetece. O mundo me sufoca, a humanidade acabou. Uso as horas longas dos dias curtos pra me esconder dentro de mim e quanto mais me isolo, mais tenho medo do fim ser este, disso ser tudo o que eu tenho pra viver. Será que é? Você saberia dizer, saberia me orientar, eu sei. Mas agora, Helena, não há mais volta.

Obrigada por abraçar meus medos, traumas e dramas, e mesmo assim, não desaparecer. Não vire cinzas, Helena. Não se perca na escuridão. E se puder, não deixe com que eu me perca também.


Rio de Janeiro, quarta-feira de dezembro.
Fernanda.





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