Somos um samba promíscuo, pecaminoso e confessional. Somos tanto rima quanto prosa, pura poesia – sem nenhuma métrica -. Enquanto giro minha guia e arrasto a barra da minha saia na cerveja que você derramou, sorrio, me desmancho inteira. Sou toda tua, mulher. Toda tua mulher.
Tombo o corpo no teu, te peço um beijo, um toque, a companhia para o resto desta vida. Você não nega nem questiona, cede.
Você me tece elogios de hora em hora e segura minha mão firme como quem diz pr’eu não desistir nem parar de dançar, mesmo que a música acabe. Você me gira, me conduz seguindo o meu ritmo. Sorri enquanto choro. Minhas entrelinhas entregam: minha angústia é não te ter aqui e é também não ter certeza se você me quer tanto quanto eu quero você.
Teus olhos prometem e juram, teus olhos não mentem. Tua boca, ocupada, não diz: devora, engole. Devoto à ti tudo-de-mim-e-mais-um-pouco, esqueço meus seios nas tuas mãos. Por dentro grito, por fora “sorrio boba“.
Fui diagnosticada tardiamente dessa coisa que agora já é grande demais para ser contida. Meu amor é urgente. O ciclo não acaba, nada sana nem ameniza.
Às três da manhã minha música são teus gemidos e engolindo minha necessidade inadiável de ti, tento corresponder à altura. [Tenho eu conseguido?] Às três da manhã te escrevo mentalmente sonetos de devoção que você talvez nunca conheça. E em silêncio, te respiro, te fito, te sou. Somos uma.
Ensaio as falas bobas e prontas cheias até a borda desse amor melancólico e voluptuoso: berro, grito, gemo, gozo. Não é o suficiente! - penso -. Nada nunca é; não para você, não para demonstrar o que sinto.
Você que não é morena nem mulata, é negra. Dos cabelos anelados, formas sinuosas, dedos longos e firmes. Você que é linda, mais-linda-do-que-eu-consigo-sintetizar e que se não existisse, teria de ser inventada. Você que é amor, amargor, ardor, fervor e torpor. Você que é todas as coisas mais lindas do mundo numa forma compacta. Você: mulher tão grande que nenhum molde jamais será capaz de reter.
Você que eu amo.
Você e nenhuma outra.
A dona dos olhos morenos que me metem mais medo que um raio de sol e do meu coração também.
Interrompo agora. Grita por mim, chama por mim. Diga que me quer agora e eu vou, amor.
Eu vou.
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