quinta-feira, 10 de julho de 2014

Meu barulho cabe todo dentro do teu silêncio.

Em cada livro que leio vejo teu nome nas entrelinhas. Nos olhos de Capitu, em Marcela de Brás Cubas, na indiferença matuta e deliciosa de Macabéa. Encontro a ti desde Machado até Caio Fernando; encontro as tuas delícias desde o romântico até o marginal. Encontro, vejo, toco, beijo-te em músicas, cheiros, lugares, lembranças, entrelinhas, gostos, cores. Sintetizo: você é tudo, está em tudo.

Recordo com um sorriso que é agora banhado por lágrimas dos teus braços longos e negros - não curtos nem morenos – que envolviam meu corpo nu e faziam de ti lar, lugar. De repente eu era verbo: estar. Teu silêncio me abraçava a inquietude, você se fazia balanço de ondas, manto protetor, escudo. E eu ruídos, gemidos.

Só barulho, amor.

Você aceita assim? Abraça assim? Adora assim?

Porque por você eu viveria no silencioso, mas você me escolheu assim: xote, samba, pagode, rock. Você escolheu o perigo, o problemão, o todo que se encaixa perfeitamente entre o vão das tuas coxas.

Meu barulho cabe todo dentro do teu silêncio, mulher.

Tua volúpia é do tamanho do meu desejo, nada tange, nada retém. Transborda. Verbalizando: ter-te é a mais pura poesia. Você é a trama que tece todos os dias mil e um dramas, nenhum se desfaz.

Fito-te do lado de cá, peço bis. Admiradora da arte que é você, só sei fazer querer-te. Vinte e cinco horas por dia, dez dias por semana. Por você eu mudo de rota, de história, de casa, identidade. Por você eu vou de Blues da Piedade à Faz parte do meu show.

Sessenta e um dias, sabe-se lá quantas horas. Faz só isso? Alguém roubou o tempo – penso -. Aflita, curiosa, indecisa, tua arte em forma de menina. Tua. Minha maior poesia é esta: ser tua.

Descanso sobre o teu peito. Não roubaram o tempo, mas sim o relógio. Tiquetaqueando lá fora está o mundo, não vai, não sai. Não me deixes. Acolhe a mim entre os teus seios e faz dos teus cabelos morenos minha cortina de proteção do mundo.


Meu barulho cabe todo dentro do teu silêncio, amor.

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