Em cada livro que leio vejo teu nome nas entrelinhas. Nos olhos de Capitu, em Marcela de Brás Cubas, na indiferença matuta e deliciosa de Macabéa. Encontro a ti desde Machado até Caio Fernando; encontro as tuas delícias desde o romântico até o marginal. Encontro, vejo, toco, beijo-te em músicas, cheiros, lugares, lembranças, entrelinhas, gostos, cores. Sintetizo: você é tudo, está em tudo.
Recordo com um sorriso que é agora banhado por lágrimas dos teus braços longos e negros - não curtos nem morenos – que envolviam meu corpo nu e faziam de ti lar, lugar. De repente eu era verbo: estar. Teu silêncio me abraçava a inquietude, você se fazia balanço de ondas, manto protetor, escudo. E eu ruídos, gemidos.
Só barulho, amor.
Você aceita assim? Abraça assim? Adora assim?
Porque por você eu viveria no silencioso, mas você me escolheu assim: xote, samba, pagode, rock. Você escolheu o perigo, o problemão, o todo que se encaixa perfeitamente entre o vão das tuas coxas.
Meu barulho cabe todo dentro do teu silêncio, mulher.
Tua volúpia é do tamanho do meu desejo, nada tange, nada retém. Transborda. Verbalizando: ter-te é a mais pura poesia. Você é a trama que tece todos os dias mil e um dramas, nenhum se desfaz.
Fito-te do lado de cá, peço bis. Admiradora da arte que é você, só sei fazer querer-te. Vinte e cinco horas por dia, dez dias por semana. Por você eu mudo de rota, de história, de casa, identidade. Por você eu vou de Blues da Piedade à Faz parte do meu show.
Sessenta e um dias, sabe-se lá quantas horas. Faz só isso? Alguém roubou o tempo – penso -. Aflita, curiosa, indecisa, tua arte em forma de menina. Tua. Minha maior poesia é esta: ser tua.
Descanso sobre o teu peito. Não roubaram o tempo, mas sim o relógio. Tiquetaqueando lá fora está o mundo, não vai, não sai. Não me deixes. Acolhe a mim entre os teus seios e faz dos teus cabelos morenos minha cortina de proteção do mundo.
Meu barulho cabe todo dentro do teu silêncio, amor.
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