terça-feira, 29 de setembro de 2015

A minha dor tá em todo lugar.
Na rua, na esquina, no bar.
E quando lateja aqui dentro
chora que nem criança.
E a dor que sinto é da mãe
que não poderei mais ser.


Pode até ser
que um dia ou outro eu tenha de onde tirar
mais forças,
mas eu duvido.
Porque aqui, amigo,
acabou faz tempo.


Costumava fazer rima boa de amor
e compaixão, mas aí aconteceu que ficou assim:
só dor.


Eu costumava falar de amor
e até sentir,
ainda resta um pouco,
é isso,
de tudo ficou um pouco.
Só um pouco.


O todo virou a dor que nada cura.
Nada
nem
ninguém.


Parece até que é política,
estupro,
morte
e justiça.
Pra quem?
Mas eu sou carne e a minha dor
é de quem é carne,
pulsa.


Meu ventre lateja a dor de dois
abortos.
Oikos, casa, eco, mãe.
Fechada para sempre,
lacrada,
só mora a dor.

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